O ataque que causou a morte de uma criança e deixou outros três feridos na manhã desta terça-feira (08), em Estação, no Norte do Rio Grande do Sul, reacende o alerta sobre a escalada de violência em instituições de ensino no Brasil. Este é o segundo caso registrado em escolas gaúchas somente em 2025.
O caso mais recente ocorreu dentro da Escola Municipal Maria Nascimento Giacomazzi, onde um adolescente atacou colegas com uma faca, matando o aluno Vitor André Kungel Gambirazi, de 9 anos. O crime abalou a pequena cidade e reacendeu o debate sobre segurança nas escolas, saúde mental infantojuvenil e o papel das redes de apoio.
Em abril deste ano, outro episódio preocupante ocorreu em Caxias do Sul, na Serra Gaúcha. Uma professora de inglês da Escola Estadual João de Zorzi foi esfaqueada pelas costas por três alunos, com idades entre 13 e 15 anos. A docente sobreviveu ao ataque.
Outros casos no estado
A violência em ambientes escolares não é recente no Rio Grande do Sul. Em abril de 2024, uma adolescente de 15 anos foi esfaqueada durante o recreio em uma escola de Montenegro. O agressor, também de 15 anos, desferiu ao menos cinco golpes. A vítima sobreviveu.
Em agosto de 2019, um ex-aluno de 17 anos invadiu uma sala de aula em Charqueadas, na Região Metropolitana, e atacou três estudantes com uma machadinha. A tragédia só não foi maior porque um professor interveio rapidamente.
Núcleo de prevenção tenta conter avanço dos ataques
Diante do aumento desses episódios, o Ministério Público do Rio Grande do Sul criou, em 2024, o Núcleo de Prevenção à Violência Extrema (Nupve). De acordo com o órgão, 107 atentados foram investigados desde então, e 37 deles foram evitados.
Em um dos casos evitados, um menino do interior do estado planejava um ataque. Após monitoramento e ação coordenada entre escola, assistência social e família, a situação foi contida. O Nupve também atua na capacitação de conselhos tutelares, profissionais da saúde, segurança pública e educadores, com foco na identificação precoce de sinais de risco.
Violência extrema nas escolas brasileiras
Segundo levantamento da organização Dados para um Debate Democrático na Educação (D³e), de 2001 a 2024 foram registrados 42 ataques em escolas brasileiras, sendo 27 somente entre março de 2022 e dezembro de 2024 — período que concentra 64% de todos os casos já notificados.
Ao todo, 44 pessoas morreram nesses episódios, sendo 32 alunos, seis funcionários e seis agressores que cometeram suicídio. Outros 113 ficaram feridos. A maioria dos ataques foi ativa, com intenção de atingir o maior número de pessoas.
Cerca de 78% dos autores tinham menos de 18 anos. Apenas uma mulher esteve entre os 45 envolvidos nos atentados — em um episódio registrado em Natal (RN), em 2024.
São Paulo lidera o ranking com 10 ataques, seguido por Rio de Janeiro e Bahia, com cinco cada. O relatório também mostra que mais de 80% das ocorrências aconteceram em escolas de famílias com nível socioeconômico médio ou superior.
Debate urgente
Especialistas defendem ações preventivas mais estruturadas e contínuas, envolvendo a comunidade escolar, familiares e o poder público. A criação de protocolos de segurança, investimento em saúde mental nas escolas e monitoramento de comportamentos de risco estão entre as medidas mais urgentes.
Enquanto isso, a dor provocada pela perda de uma criança em um ambiente que deveria ser sinônimo de proteção volta a assombrar o país. O caso de Estação é mais um alerta trágico da urgência de tratar a violência escolar como prioridade nacional.
Com informações: Jornalista Fernando Kopper
Fonte: Correio do Povo