Nos últimos anos, o Brasil vem registrando um crescimento alarmante nos casos de infarto entre jovens. De acordo com dados citados pelo cardiologista Dr. Rogério Carlet, houve um aumento de cerca de 180% nos casos de infarto em pessoas com menos de 40 anos entre 2000 e 2024. O médico foi entrevistado pelo jornalista Fernando Kopper durante a Semana da Saúde da Rádio Planetário, em uma conversa esclarecedora que abordou os fatores por trás desse fenômeno e os cuidados necessários para a prevenção.
Segundo o especialista, diversos elementos estão contribuindo para esse aumento expressivo. “A pandemia de COVID-19 teve um papel importante, já que a doença provoca inflamações e aumenta a formação de coágulos, o que pode afetar diretamente o coração. Mas, acima de tudo, o que mais mudou nos últimos anos foi o estilo de vida das pessoas”, explicou o cardiologista.
Dr. Rogério destacou que o sedentarismo, a má alimentação, o estresse crônico, o uso de drogas, anabolizantes e cigarros eletrônicos têm sido os grandes vilões da saúde cardiovascular. “Hoje se vê jovens que passam horas nas academias, mas utilizando substâncias proibidas para acelerar o ganho de massa muscular. Isso causa sobrecarga no coração, podendo levar à hipertrofia do músculo cardíaco e, em muitos casos, à insuficiência cardíaca”, alertou.
O médico também chamou atenção para o uso de testosterona e derivados entre mulheres, prática que tem se popularizado por influenciadoras e modismos ligados ao corpo perfeito. “A mulher naturalmente tem uma proteção hormonal até a menopausa. Mas quando começa a usar testosterona em níveis elevados, perde essa proteção e aumenta muito o risco de trombos e disfunções cardíacas”, explicou.
Outro ponto preocupante é o avanço do consumo de cigarros eletrônicos entre adolescentes e jovens adultos. O Dr. Rogério foi enfático ao afirmar que os vapes são ainda mais perigosos que o cigarro comum. “Eles contêm várias substâncias com alto potencial de dependência e efeitos deletérios ao organismo. Já perdi pacientes jovens por complicações pulmonares e cardíacas associadas ao uso do vape. O problema é que muitos acreditam que são inofensivos, quando na verdade o risco é muito maior”, afirmou.
Durante a entrevista, o cardiologista também falou sobre as sequelas cardíacas deixadas pela COVID-19, incluindo inflamações do músculo cardíaco (miocardites) e alterações nas artérias coronárias. “Pessoas que já tinham alguma obstrução leve nas artérias, muitas vezes sem sintomas, acabaram desenvolvendo infarto por causa do aumento da inflamação e da coagulação. A COVID foi um gatilho importante”, completou.
Ao ser questionado sobre o aumento de mortes súbitas em atletas e jovens aparentemente saudáveis, o especialista explicou que, em muitos casos, há doenças genéticas ou estruturais do coração que passam despercebidas. “O infarto em jovens é mais catastrófico. O coração ainda não criou as rotas de circulação alternativas que se formam com o tempo. Por isso, quando ocorre uma obstrução, o risco de morte súbita é muito maior do que em idosos”, explicou.
O Dr. Rogério reforçou que a prevenção é o caminho mais eficaz. Ele recomenda que pessoas jovens façam check-ups periódicos, mesmo sem sintomas aparentes. “O ideal é que todo jovem com histórico familiar de infarto inicie um acompanhamento aos 30 anos. A avaliação inclui eletrocardiograma, ecocardiograma e teste de esforço. Quem vai iniciar atividades físicas também deve passar por uma avaliação antes”, orientou.
O cardiologista aproveitou para responder dúvidas enviadas pelos ouvintes sobre estresse, palpitações e sono. “O estresse mata, sim. Ele aumenta a inflamação no corpo e pode levar à ruptura de placas de gordura nas artérias, causando infarto. Uma boa noite de sono e uma alimentação equilibrada são fundamentais para reduzir os riscos”, afirmou.
Entre as recomendações finais, o médico destacou hábitos essenciais para a saúde do coração:
Controlar o estresse e buscar momentos de relaxamento;
Manter uma alimentação balanceada, rica em frutas, legumes e grãos;
Evitar o consumo excessivo de álcool e o uso de substâncias anabolizantes;
Não fumar e evitar o uso de cigarros eletrônicos;
Praticar exercícios físicos regulares, entre 150 e 200 minutos por semana;
Fazer check-ups de rotina, especialmente para quem tem histórico familiar de doenças cardíacas.
“Nosso músculo tem memória. O que você faz agora, na juventude, refletirá lá na frente. Se você cuidar do seu coração desde cedo, estará investindo em anos de vida com qualidade”, finalizou o Dr. Rogério Carlet.
A entrevista completa faz parte da Semana da Saúde da Rádio Planetário, e reforça a importância de adotar hábitos saudáveis e de realizar acompanhamento médico preventivo — antes que o corpo dê sinais de alerta.
Com informações: Jornalista Fernando Kopper
