Os primeiros caminhões com ajuda humanitária cruzaram neste domingo (27) a fronteira do Egito rumo à Faixa de Gaza, num momento em que Israel anunciou uma “pausa tática” diária em áreas específicas do território palestino, assolado por mais de 21 meses de guerra. A trégua parcial visa facilitar o acesso de comboios com alimentos e medicamentos à população, em meio a denúncias internacionais de desnutrição severa e fome iminente.
As imagens divulgadas pela agência AFP mostram veículos pesados carregados de sacos de farinha atravessando o terminal de Rafah, do lado egípcio. Devido ao fechamento do posto fronteiriço palestino há mais de um ano, os caminhões foram desviados para o terminal israelense de Kerem Shalom, onde passaram por inspeção antes de seguir para o interior de Gaza.
Além da entrada terrestre, o domingo também marcou a retomada dos lançamentos aéreos de suprimentos. Três aviões da Jordânia e dos Emirados Árabes lançaram 25 toneladas de ajuda sobre o território. O Exército de Israel confirmou que também realizou lançamentos de pacotes contendo farinha, açúcar e alimentos enlatados, em parceria com organizações internacionais.
Crise humanitária e alívio insuficiente
O conflito, iniciado com o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, já deixou ao menos 59.821 mortos em Gaza, segundo o Ministério da Saúde do enclave, e 1.219 vítimas fatais em Israel, de acordo com dados oficiais. A ONU e diversas ONGs têm alertado para a rápida deterioração das condições de vida em Gaza, onde mais de dois milhões de pessoas enfrentam escassez de comida, medicamentos e abrigo.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que a desnutrição atinge níveis alarmantes. Em julho, 63 mortes relacionadas à fome foram registradas, sendo 24 de crianças menores de cinco anos. Em Beit Lahia, multidões caminharam por entre os escombros para coletar sacos de farinha. “O sonho da minha vida se tornou comer um pedaço de pão e poder alimentar meus filhos”, disse Suad Ishtaywi, de 30 anos, em entrevista à AFP.
Ajuda limitada e exigência de “fluxo constante”
A pausa tática anunciada por Israel prevê um cessar temporário das operações militares diárias, das 10h às 20h (4h às 14h de Brasília), nas áreas de Al Mawasi, Deir al Balah e na Cidade de Gaza. Também foram designadas rotas seguras para a movimentação de caravanas da ONU entre 6h e 23h (0h às 17h de Brasília). A medida foi celebrada por organizações internacionais, mas considerada insuficiente.
“É um passo positivo, mas devemos ver avanços reais no terreno”, afirmou Bushra Khalidi, da ONG Oxfam. A porta-voz da Unicef, Rosalia Bollen, reforçou que as necessidades humanitárias vão muito além de alimentos: “As famílias de Gaza precisam de abrigo, água potável, medicamentos e segurança”.
Apesar do anúncio oficial dos corredores humanitários, Israel continua sendo criticado por impor restrições à entrada de ajuda. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu rebateu as acusações, afirmando que o Hamas intercepta os carregamentos e que “agora não haverá mais desculpas”, com os corredores oficialmente reconhecidos.
No sábado (26), a Marinha israelense interceptou o barco “Handala”, da coalizão Flotilha da Liberdade, que levava ajuda humanitária para Gaza por mar. A embarcação foi desviada para o porto de Ashdod e sua tripulação detida.
Enquanto comboios e paraquedas levam o mínimo necessário aos habitantes de Gaza, cresce a pressão internacional por um cessar-fogo duradouro e pela abertura plena das fronteiras para impedir uma catástrofe humanitária de proporções ainda maiores.
Com informações: Fernando Kopper – jornalista