Na manhã de 9 de agosto de 2024, o bairro Cohab Santa Rita, em Guaíba, foi palco de uma tragédia que chocou a comunidade: o corpo da menina Kerollyn Souza Ferreira, de 9 anos, foi encontrado dentro de um contêiner de lixo, a poucos metros da casa onde vivia com a família. Um ano depois, a causa da morte permanece indeterminada e o caso ainda levanta mais perguntas do que respostas.
A mãe da menina, Carla Carolina Abreu Souza, está presa preventivamente, acusada pelo Ministério Público (MP) de homicídio doloso por omissão. A denúncia sustenta que Carla descumpriu seu dever legal de cuidado e vigilância, permitindo que a filha circulasse sem supervisão em situação de risco. O processo reúne 45 testemunhas, incluindo familiares, vizinhos e professores, e está em fase de instrução.
O laudo de necropsia, assinado por dois peritos, entre eles o diretor-geral do Instituto-Geral de Perícias, Paulo Barragan, aponta causa indeterminada, sem excluir a possibilidade de morte por asfixia mecânica associada ao uso de clonazepam — medicamento que a mãe admitiu ter dado à filha para “acalmá-la”. No entanto, a perícia não conseguiu comprovar relação direta entre a medicação e o óbito, pois a análise foi apenas qualitativa, sem medir dosagem.
A defesa de Carla, conduzida pela advogada Thaís Constantin, nega que ela tenha participado da morte da filha e afirma que não há provas técnicas que sustentem a acusação. Já o MP afirma que houve “omissão penalmente relevante” e que a mãe assumiu o risco do resultado fatal.
O caso também expôs fragilidades na rede de proteção infantil. Vizinhos relataram ter feito diversas denúncias ao Conselho Tutelar sobre Kerollyn andar sozinha pelas ruas, sem que medidas efetivas fossem tomadas. Uma conselheira tutelar foi afastada e responde a ação civil pública movida pelo MP. Em resposta, o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (COMDICA) informou que reforçou a capacitação de cerca de dois mil servidores e iniciou tratativas para criar um segundo Conselho Tutelar na cidade.
A avó materna, Isabel Cristina Abreu, falou pela primeira vez à imprensa, descrevendo Kerollyn como “uma luz” e afirmando não acreditar que a filha tenha colocado a neta no contêiner. Desde a tragédia, ela assumiu a guarda dos três irmãos da menina.
O processo deve ter a fase de instrução concluída até meados de setembro, quando a juíza decidirá se leva Carla a julgamento no Tribunal do Júri. Até lá, a morte de Kerollyn segue sem explicação definitiva, deixando a família e a comunidade à espera de respostas e justiça.
Com informações: Jornalista Fernando Kopper
Fonte: G1