O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, expressou dúvidas neste sábado, 26, sobre a vontade do líder russo, Vladimir Putin, de acabar com a guerra na Ucrânia, após uma reunião com seu contraparte ucraniano, Volodimir Zelensky, à margem do funeral do papa no Vaticano. Trump e Zelensky tiveram uma breve reunião, que ambos classificaram como positiva, em um momento de pressão crescente americana para que a Ucrânia e a Rússia tenham chegado a um trégua após mais de três anos de guerra.
Os dois mandatários, sentados frente a frente e inclinados um em direção ao outro, segundos fotos divulgadas pela Presidência ucraniana, conversaram durante cerca de minutos quinze na Basílica de São Pedro. Zelensky expressou seu desejo de “um cessar-fogo total e incondicional” e indicou nas redes sociais que a reunião, “muito simbólica”, tinha “o potencial de se tornar histórico, se conseguirmos resultados”.
A Casa Branca, por sua vez, qualificou o encontro como “muito produtivo”. Pouco depois, Trump expressou dúvidas sobre se Putin realmente quer a paz. “Não havia nenhuma razão para que Putin estivesse disparando mísseis nos últimos dias contra zonas civis, cidades e vilarejos”, escreveu Trump na Truth Social. “Isso me faz pensar que talvez ele não queira terminar a guerra”, acrescentou.
A Presidência ucraniana apresentou a possibilidade de uma segunda reunião no sábado, mas Trump deixou Roma logo após a abertura para retornar aos Estados Unidos. Este foi o primeiro encontro entre os presidentes americano e ucraniano desde uma discussão acalorada em Washington em 28 de fevereiro, quando Trump e seu vice-presidente JD Vance criticaram severamente Zelensky no Salão Oval.
Dezenas de chefes de Estado ou de governo e altos funcionários reuniram-se neste sábado em Roma por ocasião do funeral do Papa Francisco, o que abriu a possibilidade para múltiplos encontros diplomáticos paralelos. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, reuniu-se com Zelensky e prometeu “o apoio” ao bloco na mesa de negociações.
O líder ucraniano também conversou com a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, no Palácio Chigi. Ambos reiteraram o seu apoio aos esforços de Trump para alcançar uma paz justa e rigorosa, indicou um comunicado do gabinete do dirigente de extrema direita. Trump e Zelensky também conversaram no Vaticano com o presidente francês, Emmanuel Macron, e com o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, duas potências nucleares europeias que poderiam ter um papel crucial na segurança da Ucrânia em caso de trégua.
“Troca muito positiva hoje com o presidente Zelensky em Roma. Pôr fim à guerra na Ucrânia. Esse é o objetivo que compartilhamos com o presidente Trump”, escreveu Macron no X. Starmer e Zelensky “discutiram os progressos positivos realizados nos últimos dias” em direção à paz na Ucrânia e concordaram em “continuar trabalhando intensamente com os parceiros internacionais”, informou o governo britânico em um comunicado.
Trump afirmou na sexta-feira que um acordo entre Ucrânia e Rússia era “muito próximo”, após seu enviado Steve Witkoff discutir com Putin em Moscou a possibilidade de lançar “negociações diretas” entre as partes. Putin também disse a Witkoff que estava disposto a negociar o fim do conflito na Ucrânia “sem pré-condições”, acrescentou o Kremlin neste sábado.
Não houve negociações diretas entre russos e ucranianos sobre o fim do conflito desde os primeiros meses da invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022.
Enquanto os encontros ocorriam em Roma, Moscou anunciou que seus soldados recuperaram o controle do oblast (região administrativa) russo de Kursk, parcialmente controlado pelas tropas ucranianas desde sua explosão surpresa nesta zona fronteiriça em agosto de 2024. O Exército ucraniano desmentiu neste sábado as afirmações russas e afirmou que suas tropas lutaram.
Putin já havia deixado claro no passado que não estava disposto a negociar o fim do conflito até que as forças ucranianas fossem completamente “expulsas” do oblast. Se for confirmado que a Rússia retomou o controle, a Ucrânia perderia uma importante vantagem em uma negociação possível, especialmente dada a situação das tropas ucranianas na linha de frente piorou nos últimos meses. Kiev, além disso, enfrenta a ameaça de que os Estados Unidos retirem seu apoio vital.
Trump, cujas equipes também negociaram separadamente com os ucranianos, afirmou durante a campanha eleitoral que encerraria rapidamente o conflito. Diante do impasse nas conversas, o presidente americano parece querer forçar a mão de Zelensky, mas Kiev teme que seu principal aliado obrigue a aceitar condições controladas ao Kremlin.
Com informações: Jornalista Fernando Kopper