O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que os réus do chamado “núcleo 3” da suposta trama golpista, composta majoritariamente por militares, prestem depoimento em trajes civis. A medida foi adotada para evitar associação das Forças Armadas como instituição às acusações individuais de oficiais da ativa envolvidos na tentativa de manter Jair Bolsonaro no poder após sua derrota nas urnas.
A decisão gerou controvérsia e foi contestada pelas defesas de dois tenentes-coronéis da ativa, Rafael Martins de Oliveira e Hélio Ferreira Lima, que foram obrigados a trocar de roupa antes de depor nesta segunda-feira (28). Os advogados alegaram constrangimento ilegal e afirmaram que não foram previamente informados da exigência. Um dos defensores classificou a situação como “vexatória”, já que os militares precisaram usar roupas emprestadas.
Segundo o juiz auxiliar Rafael Henrique Janela Tamai Rocha, que atua no gabinete de Moraes, o uso de farda foi vetado porque “a acusação é voltada contra os militares, não contra o Exército Brasileiro como um todo”.
Rafael Martins e Hélio Lima integram um grupo de elite do Exército conhecido informalmente como “kids pretos”, por usarem boinas escuras. De acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR), ambos teriam monitorado o ministro Alexandre de Moraes em dezembro de 2022 como parte de um plano para sequestrá-lo e, eventualmente, executá-lo. O plano só não teria sido executado por resistência do então comandante do Exército, general Freire Gomes.
A PGR aponta ainda que Rafael Martins chegou a adquirir um celular “descartável” para comunicação no dia da operação, supostamente articulada para dar início ao golpe.
O núcleo 3 da investigação é formado por nove militares e um policial federal, acusados de ações de campo para dar suporte ao golpe, incluindo pressão sobre o alto comando militar e tentativa de “neutralizar” opositores. Entre os réus que prestam depoimento estão generais, coronéis, tenentes-coronéis e um agente da Polícia Federal.
Confira os réus do núcleo 3 interrogados nesta segunda-feira:
Bernardo Romão Correa Netto (coronel do Exército)
Cleverson Ney Magalhães (tenente-coronel)
Estevam Theophilo (general)
Fabrício Moreira de Bastos (coronel)
Hélio Ferreira Lima (tenente-coronel)
Márcio Nunes de Resende Júnior (coronel)
Nilton Diniz Rodrigues (general)
Rafael Martins de Oliveira (tenente-coronel)
Rodrigo Bezerra de Azevedo (tenente-coronel)
Ronald Ferreira de Araújo Júnior (tenente-coronel)
Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros (tenente-coronel)
Wladimir Matos Soares (policial federal)
A ação penal integra um inquérito mais amplo dividido em quatro núcleos, que envolve desde o ex-presidente Jair Bolsonaro até militares da ativa e da reserva, ex-ministros, agentes públicos e integrantes da segurança pública. As investigações são conduzidas pela Polícia Federal em cooperação com a PGR e supervisionadas pelo STF.
Com informações: Jornalista Fernando Kopper