O Rio Grande do Sul vive, em 2025, o pior cenário já registrado de internações e mortes por influenza desde o início da série histórica, iniciada em 2011, após a pandemia do H1N1. Até o dia 22 de julho, o Estado contabilizou 2.795 hospitalizações e 451 óbitos causados pela doença — um aumento expressivo de 946% nas internações e 3.121% nas mortes em comparação ao primeiro ano de monitoramento, quando foram registrados 267 casos e 14 mortes.
Com esses números, 2025 supera inclusive o recorde do ano passado. Em relação a 2024, o aumento é de 20% nas internações (eram 2.328) e de 56% nas mortes (289 no total), configurando o maior impacto da influenza em território gaúcho já observado em um único ano.
Embora a influenza seja o principal fator, não é o único agente a contribuir para o aumento nos casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) — condição que abrange uma série de infecções respiratórias com alto potencial de gravidade. De acordo com a farmacêutica Renata Mondinid, do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), o Rio Grande do Sul ampliou significativamente sua capacidade de diagnóstico desde a pandemia de H1N1, permitindo identificar com maior precisão os agentes responsáveis pelas internações.
SRAG: quase 12 mil internações em 2025
Dados do Painel de Hospitalizações por SRAG, da Secretaria Estadual de Saúde, mostram que 11.895 pessoas já foram hospitalizadas neste ano em razão de doenças respiratórias no Rio Grande do Sul. Um dos vírus que mais chama atenção é o Vírus Sincicial Respiratório (VSR), que causou 2.889 internações e seis mortes até julho. A grande maioria dos casos ocorreu em crianças menores de um ano — grupo que corresponde a 2.075 hospitalizações e todas as mortes.
Segundo a infectologista Rafaela Mafaciolli, da Santa Casa de Porto Alegre, o VSR é hoje a principal causa de pneumonia viral e internações respiratórias entre crianças. Já o pneumologista Vilmar Fontanive Junior, do Hospital Conceição, destaca o VSR como o principal causador da bronquiolite, inflamação das vias aéreas nos pulmões.
A epidemiologista Ivana Varella, do Grupo Hospitalar Conceição, alerta que o VSR, embora mais comum em crianças pequenas, também pode afetar adultos, especialmente idosos. “Ele é o maior responsável por essa carga de hospitalizações por doença respiratória em crianças, principalmente abaixo de cinco anos. Mas também pode atingir idosos e gerar internações em UTI”, enfatiza.
Influenza atinge principalmente idosos não vacinados
O vírus influenza segue como o agente mais letal. Das 2.795 hospitalizações e 451 óbitos registrados em 2025, 1.631 e 350, respectivamente, ocorreram entre pessoas com 60 anos ou mais. Outro dado alarmante: 81% dos hospitalizados e 77% dos mortos por influenza não estavam vacinados.
A baixa cobertura vacinal entre os grupos prioritários preocupa os especialistas. Até o momento, apenas 49,4% das pessoas que integram os grupos com maior risco de complicações receberam a dose da vacina contra a gripe. Entre as crianças de seis meses a seis anos, o índice é de apenas 39,5%. Já os idosos alcançaram 53,2% de cobertura, e as gestantes, apenas 29,8%.
“A vacina não impede a infecção, mas protege contra formas graves da doença. Estamos vendo o reflexo direto da baixa adesão: mais pacientes evoluindo para quadros graves e necessitando de internação. É essencial que a população volte a se vacinar como fazia antes”, alerta a infectologista Rafaela Mafaciolli.
Covid-19 ainda impacta, mas em menor escala
Apesar de não ser mais o epicentro das internações respiratórias, a Covid-19 ainda representa uma parte relevante das complicações hospitalares. Em 2025, foram registrados 376 casos graves causados pelo coronavírus no Estado. O pneumologista Vilmar Fontanive Junior ressalta que a boa cobertura vacinal ajudou a conter a gravidade dos quadros, mas que o vírus ainda circula e pode provocar hospitalizações, especialmente em pessoas com o sistema imunológico comprometido.
Causas do agravamento: clima, vacinação e vírus mais potentes
Os especialistas apontam três fatores principais para o cenário crítico:
Baixa adesão à vacinação — Considerado o principal fator agravante. A proteção vacinal evita formas graves e diminui a pressão sobre o sistema de saúde.
Sazonalidade climática — O outono e o inverno no RS favorecem a transmissão dos vírus respiratórios, devido ao clima frio, aumento das aglomerações e uso de ambientes fechados e com pouca ventilação.
Circulação de cepas mais virulentas — Segundo o pneumologista Fontanive, as variantes do vírus influenza A, como H1N1 e H3N2, estão circulando com maior força e provocando quadros mais graves, especialmente em idosos.
“O vírus está mais agressivo. As cepas que estão circulando têm se mostrado mais virulentas, com maior capacidade de infecção e gravidade, especialmente para os mais velhos e imunocomprometidos”, explica.
Diante do cenário alarmante, autoridades de saúde reforçam a importância da vacinação, da vigilância constante dos sintomas respiratórios e da busca precoce por atendimento médico diante de qualquer sinal de agravamento, como falta de ar, febre persistente e queda na saturação de oxigênio.
A recomendação geral é clara: vacinar-se salva vidas, especialmente em tempos de vírus mais agressivos e baixas coberturas vacinais.
Com informações: Jornalista Fernando Kopper
Fonte: GZH