O preço do leite cru registrou nova queda em setembro, marcando o sexto recuo consecutivo nas cotações no campo. Segundo levantamento do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, o valor médio nacional pago ao produtor, conhecido como “Média Brasil”, ficou em R$ 2,4410 por litro, uma redução de 4,2% em relação a agosto e de 19% frente a setembro de 2024, considerando o IPCA de setembro de 2025.
O Cepea aponta que o mercado interno permanece amplamente abastecido, o que tem pressionado os preços. De um lado, a produção segue em ritmo acelerado, impulsionada por investimentos realizados após margens mais favoráveis em 2024 e pela melhoria das pastagens durante a primavera. O Índice de Captação de Leite (ICAP-L) subiu 5,8% de agosto para setembro e acumula alta de 12,2% no ano, refletindo a expansão da produção em praticamente todas as regiões do país.
Outro fator que amplia a oferta é o aumento das importações. Em setembro, o volume importado cresceu 20%, totalizando 198,1 milhões de litros em equivalente leite, com destaque para o leite em pó, que representou quase 80% desse montante. Mesmo com alta de 11% nas exportações no mês, o volume interno ainda é superior à demanda, resultando em estoques elevados e preços mais baixos.
Entre janeiro e setembro, as importações somaram 1,65 bilhão de litros equivalentes, uma queda de 4,8% frente ao mesmo período de 2024, mas ainda consideradas altas pelo setor. Já as exportações recuaram 36,7% no acumulado do ano, atingindo apenas 52,9 milhões de litros.
A saturação do mercado vem comprimindo as margens das indústrias e dos produtores. Os segmentos de leite UHT, queijo muçarela e leite em pó registraram quedas de 2,87%, 2,08% e 1,66%, respectivamente, no atacado paulista, segundo pesquisa do Cepea com apoio da OCB.
Mesmo com leve redução de 0,9% no Custo Operacional Efetivo (COE), o alívio foi insuficiente para compensar a desvalorização do produto. O aumento dos preços dos grãos também pressiona o setor: em setembro, o produtor precisou de 26,5 litros de leite para comprar um saco de 60 kg de milho, alta de 5,4% em relação a agosto.
A tendência, segundo o Cepea, é que as cotações sigam em queda até o fim do ano, acompanhando o período de safra das águas, quando a produção tende a crescer nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. O setor aposta em possível estabilização dos preços em dezembro, mas uma recuperação mais consistente só deve ocorrer a partir do segundo bimestre de 2026, quando a oferta tende a se reduzir no Sul do país e o mercado pode reencontrar um novo ponto de equilíbrio.
Com informações: Jornalista Fernando Kopper
Fonte: Correio do Povo
