O policial militar preso por suspeita de executar Geovane Matias Maciel, de 19 anos, durante uma abordagem em Bom Jesus, nos Campos de Cima da Serra, afirmou em depoimento à Polícia Civil que o jovem teria tentado agredi-lo com uma faca. A declaração, feita no mesmo dia do ocorrido, 4 de março, omite o fato de que Geovane foi baleado quando já estava com as mãos algemadas para trás, como revelado por um vídeo do momento.
A gravação do depoimento do policial, com dois minutos e 51 segundos de duração, mostra o agente relatando que Geovane estava em um táxi e possuía um mandado de prisão em aberto. Segundo o PM, o rapaz teria reagido à abordagem. “Ele sacou uma faca e tentou avançar na guarnição, inclusive, me atingindo no colete com uma facada. Tive que efetuar quatro disparos e cessar a injusta agressão”, declarou o policial.
Ainda segundo ele, após os tiros, houve tentativa de acionar o Samu, mas não havia sinal de telefone no local. “A gente colocou ele na viatura e o levou até o hospital”, acrescentou.
No entanto, o vídeo que circulou em junho e foi encaminhado ao Ministério Público mostra outra realidade: Geovane foi retirado do carro por quatro policiais e estava algemado no momento em que foi baleado. O laudo pericial confirmou que a causa da morte foi hemorragia interna provocada por disparos de arma de fogo.
O policial foi preso preventivamente em 10 de julho, após decisão do juiz Vancarlo André Anacleto, da Vara Judicial da Comarca de Bom Jesus. O magistrado considerou haver risco concreto de obstrução da investigação, ressaltando a influência do policial na pequena comunidade local. A Justiça também levou em conta a gravidade da conduta, classificada como possível execução de um civil sob custódia e em situação de total controle policial.
Além do PM detido, outros três policiais militares que aparecem na gravação também são investigados e respondem a um Inquérito Policial Militar (IPM). Todos foram afastados das funções.
Relembre o caso
Inicialmente registrado como morte em confronto, o caso foi reclassificado após o surgimento das imagens que contradizem a versão apresentada pelos agentes. A vítima, Geovane Matias Maciel, tinha antecedentes por roubo, furto, ameaça e latrocínio, e era suspeito de ter incendiado a casa da ex-companheira. Na ocasião da abordagem, havia um mandado de prisão em seu nome.
Com informações: Jornalista Fernando Kopper