A indústria de máquinas e implementos agrícolas do Rio Grande do Sul, responsável por cerca de 65% da produção nacional, demonstra forte apreensão diante do chamado “tarifaço” anunciado pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, caso retorne ao poder. O setor teme ser duplamente impactado: tanto nas exportações quanto na importação de insumos essenciais à fabricação de equipamentos.
“Estamos muito preocupados. Primeiro, porque a gente preza pela manutenção de empregos. Essa insegurança do mercado traz uma insegurança de investimento como um todo”, afirmou Carolina Rossato, vice-presidente do Sindicato da Indústria de Máquinas e Implementos Agrícolas do Estado (Simers).
A apreensão da indústria gaúcha vai além da possível redução nos embarques para os Estados Unidos, considerado um mercado estratégico. Caso o Brasil adote medidas retaliatórias, outro problema poderá se formar: o encarecimento de componentes essenciais, como os eletrônicos, muitos deles de origem americana, utilizados em praticamente todos os modelos de máquinas agrícolas fabricados no Estado.
“Nos preocupa a inflação dos materiais, a maioria dos componentes eletrônicos são americanos”, reforça Carolina.
Ela destaca ainda que o impacto da guerra comercial pode desencadear um efeito cascata sobre toda a cadeia do agronegócio. Se produtos como carne bovina e suco de laranja forem atingidos por barreiras tarifárias, os produtores tendem a recuar em investimentos em tecnologia e mecanização, o que reflete diretamente na demanda por máquinas.
Além das incertezas no comércio internacional, o setor também aguarda com expectativa a efetivação da liberação das linhas de crédito do Plano Safra 2025/2026. O acesso aos financiamentos é visto como essencial para a retomada dos negócios neste segundo semestre.
Carolina Rossato lembra que o plano anunciado em junho trouxe reforços importantes, principalmente nas linhas voltadas à agricultura familiar (Pronaf) e aos médios produtores (Pronamp), que concentram boa parte da base de clientes da indústria de implementos agrícolas. No entanto, sem a operacionalização dos recursos, as vendas ainda estão represadas.
“Estamos num momento de espera. As medidas foram anunciadas, mas é preciso que as linhas estejam, de fato, disponíveis nos bancos para que os produtores possam acessar e as vendas possam reaquecer”, conclui a dirigente.
Com informações: Fernando Kopper – jornalista