A possível combinação de negócios entre a brasileira Kepler Weber e a americana GSI, controlada pelo fundo American Industrial Partners (AIP), pode consolidar um dos maiores grupos mundiais de armazenagem de grãos, com impacto direto no mercado brasileiro e no cenário global do agronegócio. A Kepler anunciou na noite de terça-feira (4) que firmou acordo de exclusividade para negociar a fusão, movimento visto como estratégico em um setor marcado pelo avanço da produção agrícola e por um déficit nacional histórico na capacidade de armazenagem.
A Kepler Weber é atualmente líder no Brasil, com cerca de 35% de participação no mercado de silos. Já a GSI, terceira colocada no país, possui aproximadamente 7% e vem ampliando sua atuação no Brasil desde que foi adquirida da AGCO pelo AIP em 2024, por US$ 700 milhões. A companhia adotou uma estratégia agressiva de preços e linhas de financiamento para dobrar sua participação no país ao longo dos próximos anos.
Para analistas do Citi, a fusão representaria um “atalho para a liderança” e consolidaria um grupo com presença dominante no mercado brasileiro, reunindo escala produtiva, sinergias comerciais e um portfólio robusto de soluções para armazenagem e manejo de grãos. Segundo especialistas, a união também posicionaria a empresa resultante para concorrer, em maior equilíbrio, com players globais como a canadense Ag Growth International (AGI), a americana Brock Grain Systems e a espanhola Symaga.
O interesse pelo mercado brasileiro se justifica pelo crescimento acelerado da produção agropecuária nacional e pela defasagem na capacidade de armazenagem. Enquanto os Estados Unidos possuem capacidade estática superior a 100% de sua produção anual, o Brasil opera com cerca de 70%, segundo dados recentes. Projeções da Cogo Inteligência em Agronegócio indicam que, se nada for alterado, essa relação pode cair para 55% até 2033, ampliando ainda mais o gargalo logístico. Nesse cenário, uma companhia fortalecida teria espaço para assumir protagonismo na construção de novas estruturas de armazenamento, especialmente em regiões de expansão agrícola.
Além disso, o Citi aponta que, por ser controlada por um fundo de private equity, é pouco provável que a GSI mantenha participação em uma empresa listada em bolsa por longo prazo. Assim, o avanço das negociações pode abrir espaço para uma Oferta Pública de Aquisição (OPA), resultando em fechamento de capital da Kepler Weber. A empresa, avaliada atualmente em cerca de R$ 1,64 bilhão, negocia a múltiplos considerados baixos em comparação a transações anteriores no setor, o que pode favorecer um movimento estratégico de aquisição.
A estrutura acionária da Kepler, sem um controlador definido e com capital pulverizado, também é vista como um facilitador para eventuais propostas. A Trígono Capital é o maior acionista, com cerca de 15,3% das ações, seguida pela família Heller, com 11,6%. O restante está distribuído entre investidores de mercado.
As tratativas seguem em fase inicial e devem se estender pelos próximos 90 dias, período reservado para análise detalhada de ativos, viabilidade operacional e estrutura societária. Fontes próximas às empresas afirmam que ainda não há proposta formal de fusão ou compra, mas confirmam que o diálogo avança em ritmo considerado significativo.
Caso se concretize, a fusão poderá redefinir a dinâmica de oferta, preços e capacidade instalada no mercado de armazenagem de grãos no Brasil, posicionando o país como protagonista estratégico em um setor essencial para a segurança alimentar global.
Com informações: Jornalista Fernando Kopper
Fonte: InvestNews
