Especialistas, gestores públicos, representantes do setor produtivo e da sociedade civil estiveram reunidos na última quarta-feira (6), em Porto Alegre, para a edição sul-brasileira do Diálogos pelo Clima. Promovido pela Embrapa, o encontro preparatório para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que ocorrerá em novembro em Belém (PA), focou nas estratégias para enfrentar os desafios das mudanças climáticas nos biomas Pampa e Mata Atlântica, com base na ciência, inovação e diálogo intersetorial.
O evento ganhou ainda mais relevância diante dos impactos dos eventos climáticos extremos que, em 2024, afetaram diretamente cerca de 2,5 milhões de pessoas no Rio Grande do Sul, considerados pelo governo estadual a maior catástrofe climática da história gaúcha. Na abertura, autoridades destacaram a urgência de adaptar a agricultura gaúcha para tornar os sistemas agroalimentares mais resilientes e sustentáveis.
Silvia Massruhá, presidente da Embrapa, ressaltou a multifuncionalidade da agropecuária brasileira, que produz alimentos, fibras e energia e está intimamente ligada à saúde, nutrição, turismo e valorização da sociobiodiversidade. Para ela, o Brasil, como potência agroambiental, deve aproveitar a COP30 realizada no país para demonstrar ao mundo a sustentabilidade da sua agricultura baseada em ciência e tecnologia.
Luciano Schwerz, presidente da Emater/RS-Ascar, evidenciou os desafios enfrentados pelos agricultores nos últimos anos, principalmente as perdas significativas de produção agrícola causadas pelos extremos climáticos. Só na soja, o Rio Grande do Sul deixou de colher mais de 39 milhões de toneladas em seis anos, refletindo a necessidade de adaptação urgente dos produtores.
Simone Stülp, secretária de Ciência, Tecnologia e Inovação do RS, enfatizou o compromisso do governo estadual em enfrentar as mudanças climáticas, com foco na resiliência territorial e fortalecimento dos sistemas agroalimentares por meio da integração entre pesquisa, extensão e inovação.
Pepe Vargas, presidente da Assembleia Legislativa do RS, ressaltou que o Brasil, apesar do cenário internacional desafiador, mantém sua matriz energética majoritariamente limpa e compromisso com metas de mitigação nas áreas de energia e agropecuária.
A cientista Thelma Krug, coordenadora do Conselho Científico da COP30, fez a palestra de abertura alertando para os riscos do aumento da temperatura global em 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais, o que pode tornar irreversíveis os danos a ecossistemas essenciais e impactar severamente a agropecuária. Ela destacou que os eventos climáticos extremos têm relação direta com a atividade humana e ressaltou a urgência da transição energética para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
Na programação técnica, Rosane Martinazzo, da Embrapa Clima Temperado, apresentou o Programa Recupera Rural RS, iniciativa voltada para a recuperação agroprodutiva e fortalecimento da resiliência dos territórios rurais gaúchos após as enchentes de 2024, com ações em várias regiões do estado que envolvem boas práticas agrícolas, recuperação de solos, gestão hídrica e restauração ambiental.
Durante o painel, moderado por Clenio Pillon, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, representantes do setor florestal, da agricultura familiar e do cooperativismo compartilharam experiências e reforçaram a necessidade de reconhecer o papel estratégico da agricultura na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas e na construção de um futuro mais sustentável para o Rio Grande do Sul.
Com informações: Jornalista Fernando Kopper
Fonte e foto: Agrolink