Entre os dias 19 e 20 de agosto de 1965, a cidade de Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, foi palco de um fenômeno climático raro e inesperado: uma intensa nevasca que cobriu ruas, telhados, árvores e veículos com uma espessa camada de neve, transformando completamente a paisagem urbana. O evento surpreendeu os moradores e ficou marcado como um dos episódios climáticos mais memoráveis da história local.

No dia 19, a temperatura despencou de forma abrupta, atingindo -0,6ºC ao meio-dia, um valor incomum para o período e para a região. À tarde, por volta das 18h, os termômetros marcaram 0ºC, permanecendo nesse nível até a meia-noite, prolongando o frio intenso que congelou ruas, veículos e estruturas expostas. No dia seguinte, 20 de agosto, a temperatura apresentou uma leve recuperação, alcançando 3,6ºC ao meio-dia, o que trouxe algum alívio temporário para a população, embora o efeito do frio rigoroso ainda pudesse ser sentido em toda a cidade.

A neve caiu de forma contínua por cerca de 20 horas, acumulando grande volume nas vias públicas, praças e telhados. O fenômeno teve impacto direto na rotina da população: as aulas foram canceladas e muitas crianças aproveitaram o recesso inesperado para brincar no gelo e na neve, transformando ruas e praças em locais de diversão e exploração. Moradores relatam que a sensação de ver a cidade coberta por neve era ao mesmo tempo inesperada e fascinante, proporcionando uma experiência única que poucos haviam presenciado até então.

Além do impacto visual, a nevasca afetou a mobilidade urbana e a vida cotidiana. Transportes foram interrompidos, com carros e bicicletas presos sob a neve, e pedestres precisaram caminhar com cuidado pelas ruas escorregadias. A população também se organizou para proteger hortas, animais e estruturas domésticas, em um esforço coletivo que evidenciou a resiliência da comunidade diante de um fenômeno climático tão incomum.
Testemunhas oculares lembram que o branco que tomou Cruz Alta naquele agosto transformou a cidade em um cenário raro e quase irreconhecível. As árvores, completamente cobertas de neve, pareciam esculturas naturais, enquanto os telhados das casas se tornaram plataformas brancas que refletiam a luz do sol, criando uma paisagem de rara beleza. Para muitas famílias, a experiência marcou a memória afetiva, com fotos e relatos transmitidos de geração em geração, tornando o episódio um marco na história climática da cidade.

O evento também reforçou a percepção sobre a imprevisibilidade do clima em regiões do interior gaúcho, lembrando que, mesmo em cidades acostumadas a ver frio, fenômenos extremos podem surgir de forma súbita, alterando vidas, rotina e trazendo ao mesmo tempo desafios e momentos de encanto. Para Cruz Alta, o agosto de 1965 permanece registrado como um episódio único, que transformou temporariamente a rotina da cidade e proporcionou uma experiência memorável para todos que presenciaram a nevasca.
Com informações: Jornalista Fernando Kopper
Fotos: Acervo Dr. Alfredo Roeber