A BR-158, uma das principais rotas de escoamento da produção agrícola do Noroeste do Rio Grande do Sul até o Porto de Rio Grande, vive um cenário crítico e preocupante. No trecho de 62 quilômetros entre Júlio de Castilhos e Santa Maria, a precariedade da rodovia tem gerado sucessivos transtornos e riscos à segurança dos motoristas que trafegam diariamente pela via.
Curvas fechadas, acostamentos estreitos, buracos profundos, sinalização deficiente e longos trechos em meia-pista por conta de obras inacabadas compõem o retrato da estrada. As condições precárias se agravaram desde a enchente de 2024, que interditou a Estrada do Perau, até então, a principal alternativa de ligação entre Santa Maria e Itaara. Desde então, a BR-158 tornou-se o único caminho para quem precisa se deslocar entre os dois municípios, sobrecarregando ainda mais o tráfego.
Morador de Itaara, o estudante Mateus Neto relata os perigos da rodovia com a experiência de quem a percorre com frequência. Na madrugada da última terça-feira (29), sua esposa teve dois pneus furados ao cair em buracos da pista. No mesmo ponto, outros cinco carros estavam parados pelo mesmo motivo.
“Um dos pneus que furou é do mesmo lado em que já trocamos duas vezes, em um mês. E isso é direto”, lamenta Mateus.
Para o caminhoneiro Gilberto Siqueira, 45 anos, que trafega semanalmente pela BR-158, a cena de veículos parados com pneus estourados já se tornou rotina.
“Tem dia que tu passa e vê cinco carros parados no mesmo lugar. Eles tapam os buracos, mas chove e abre tudo de novo. E assim vai indo, sem fim”, relata.
Dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), obtidos pela Rádio Gaúcha, apontam a BR-158 como a rodovia com mais acidentes na Região Central do Estado. No primeiro semestre de 2025, foram registradas 60 ocorrências no trecho. Metade das mortes por acidentes rodoviários da região aconteceu nesse setor da rodovia, embora a PRF não tenha confirmado se há relação direta com as más condições estruturais.
O clima, especialmente em dias de chuva e neblina, agrava ainda mais os riscos. Com a pista escura e buracos invisíveis à distância, os motoristas relatam dirigir sob tensão constante.
“Já precisei ligar para a PRF várias vezes por causa de carros parados ou acidentes. A gente anda com medo. Em dia de neblina, é impossível ver os buracos”, afirma Mateus.
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) informou que há um contrato de manutenção vigente até 2027, com investimento previsto de R$ 88 milhões. As obras estavam paralisadas desde março, sendo executados apenas serviços de tapa-buracos. Neste mês, com a liberação de novos recursos, os trabalhos foram retomados.
Segundo o Dnit, ações emergenciais são realizadas após períodos de chuva, e é possível observar maquinário em operação em determinados trechos. Cones sinalizam parte das intervenções, incluindo obras em encostas para evitar novos deslizamentos.
Enquanto isso, quem depende da BR-158 segue enfrentando risco diário em uma rodovia que, apesar de estratégica, ainda carece de infraestrutura segura e funcional.
Com informações: Jornalista Fernando Kopper
Fonte: GZH