Por: João Victor Costa Dos Santos, Estudante de Arquitetura e Urbanismo e Ciência Política. Secretário Executivo e Representante Estadual pelo RS do Instituto Brasileiro de Estudos Monarquistas – IBEM
Algumas semanas atrás, uma notícia bastante infeliz me pegou de surpresa: o Fogo de Chão que se localizava na minha terra-natal, São Sepé, foi extinto depois de mais de 200 anos aceso. Foi uma atitude tomada sem aviso e sem chance de mobilização para auxiliar a manter a tradição. De certa forma, isso se tornou um ícone de algo cada vez mais evidente: a extinção da cultura e da tradição.
O Fogo de Chão sempre foi mais do que uma simples chama acesa. Era um símbolo da identidade de um povo, especialmente para quem nascia em São Sepé. Desde pequeno, lembro sempre dos meus professores falando do zelo e do valor de preservação desta chama que foi legado por gerações passadas. Dentro da cultura gaúcha, o fogo é um simbolismo de tradição e alma da sociedade gaúcha, algo que vemos mais claramente na Chama Crioula que percorre o estado nas semanas que antecedem a Semana Farroupilha. Apagar o Fogo de Chão, sem permitir que a comunidade se manifestasse, soa como um rompimento silencioso na história e identidade coletiva.
Manter o fogo aceso não era apenas uma questão de costume, mas simbolizava um pertencimento. Era uma forma de resistir às transformações do tempo, nos lembrando que há valores que não podem ser apagados. Cada centelha daquele fogo carregava as marcas de um povo que luta para preservar sua cultura, quando o resto do país mal consegue manter suas identidades regionais.
Extinguir o Fogo de Chão é extinguir um pedaço do que nós somos e silenciar as vozes que ecoaram ao redor dele por séculos. É deixar que a modernidade avance sem diálogo com as raízes que sustentam a própria identidade regional.
Agora que já não há mais o fogo centenário, devemos transformar essa perda em reflexão. Esse episódio precisa despertar em nós o compromisso de preservar o que ainda resta, desde o costume de tomar um chimarrão até a vestimenta e dialetos que existem só aqui. Se perdemos isso, faremos com que o trabalho de grandes homens como Paixão Côrtes, que lutaram com afinco pela continuidade da cultura gaúcha, tenha sido em vão. Que esse Fogo de Chão continue aceso dentro de cada gaúcho, e que esse zelo se mantenha vivo de geração em geração.