Por: João Veríssimo – jornalista
A sociedade brasileira vive a perplexidade da corrupção epidêmica disseminada por todos os cantos e em todos os níveis. Outra perplexidade é a sociedade olhar para si mesma e constatar uma apatia que, como uma enfermidade, atinge todos os setores que não reagem diante de tanta desfaçatez, demagogia e roubo disfarçado de democracia.
Se de um lado temos um assalto despudorado à coisa pública, de outro, temos a inércia de uma sociedade que reclama pelos cantos, mas não tem coragem de assumir seus repúdios publicamente. Em setembro o Rio Grande do Sul festeja, a vangloriada Revolução Farroupilha. Um de seus significados, possivelmente o mais exaltado tempo a fora, foi a luta pela liberdade, uma bandeira que, ao longo da espichada guerra, resultou na morte de uma infinidade de defensores de um valor que é inerente à condição humana. Ser livre, mais que uma luta, é a essência do homem.
A pergunta atualizada ao nosso tempo. Será que temos hoje a consciência da liberdade? Que tipo de consciência e que tipo de liberdade? Temos certezas? Que liberdade queremos? Os discursos da semana Farroupilha exaltam a liberdade, mas como é a liberdade que precisamos?
Quando olhamos, para qualquer lado, vemos a miséria que escraviza, os tributos, cada vez maiores, que nos oprimem, os salários vergonhosos que disfarçam a fome, a violência que nos deixa acuados e a podridão de uma política cada vez mais perversa.
Essa é uma visão de mundo que mesmo parecendo negativista, pessimista, ou qualquer outra análise, é real. Essa é uma realidade que desafia a despertarmos nosso espírito de inconformismo, despertarmos nossos anseios de um mundo melhor mas que, para isso, depende da nossa ação, da nossa intervenção em tudo o que está próximo e que podemos, de alguma maneira, tomar uma atitude e mudar rumos.
Prá fazer valer o grito farroupilha é preciso coragem, muita coragem. Não coragens isoladas, mas coragens conjuntas e definitivas, como os farrapos. Não basta o chimarrão, o churrasco e o desfile a cavalo. Essa é uma das formas de reverenciarmos o passado. O lado festivo da revolução é o mais descompromissado. Mas há um outro lado que exige outros comprometimentos e, certamente, o mais desafiador.
Onde está a rebeldia contra quem nos joga migalhas exigindo que dobremos a espinha para apanhá-las?